28/07/2011
Ser mulher e negro no Brasil é ter que enfrentar um desafio diário para
ter os direitos garantidos. Se você é mulher e negro e está na fila de espera
por um transplante de órgãos, saiba que a sua cor e gênero podem diminuir as
chances de ter a cirurgia realizada. É isso o que mostra um estudo inédito
realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
De acordo com a pesquisa – que teve como foco os transplantes de órgãos
sólidos, como coração, fígado, rim, pâncreas e pulmão -, a maioria dos transplantados no Brasil são homens de cor branca. Um dado preocupante, sobretudo para a Bahia, que tem 82% da população negra.
A análise do Ipea mostra que a cada quatro receptores de
coração, três são homens, e 56% dos transplantados têm a cor de pele branca. No transplante de fígado,
oito são para pessoas brancas. O mesmo ocorre com os transplantes de pâncreas,
pulmão e rim.
Desigualdade
“Esse trabalho revela que há desigualdade no recebimento dos órgãos, o
que não deveria ocorrer, já que o acesso à saúde é um direito universal”, pontua o economista
Alexandre Marinho, da diretoria de estudos e políticas sociais do Ipea, um dos
autores da pesquisa. Para realizar o trabalho, os pesquisadores analisaram
dados de 1995 a 2004, fornecidos pela Associação Brasileira de Transplantes de
Órgãos (ABTO).
As causas do fenômeno não foram o foco do estudo, mas acredita-se que as
condições socioeconômicas tenham influencia no momento de escolha do paciente.
Na opinião do coordenador do Sistema Estadual de Transplantes da Secretaria do
Estado da Bahia (Sesab), Eraldo Moura, a pesquisa precisa ser melhor
investigada.
“O transplante vem sendo de fato realizado mais em brancos ou em pessoas que se
declaram brancas?”, questiona. Segundo Moura não há possibilidade de existir
“prioridades” na lista. “Todos têm o mesmo direito. A lista de espera não
funciona com o critério cor e gênero”, garante.
A pesquisa Desigualdade de Transplantes de órgãos no Brasil: Análise do Perfil
dos Receptores por Sexo, Raça ou Cor será apresentada hoje, às 9h, durante uma
audiência pública realizada no auditório do Centro de Cultura da Câmara
Municipal de Salvador.
Com o tema À População Negra e a Política de Transplante de Órgãos e Doação de
Medula Óssea, o evento é realizado pela Ouvidoria da Câmara, em parceria com o
Grupo de Apoio à Criança com Câncer (Gacc- BA).
“Embora as causas não tenham sido foco do estudo, acreditamos que os pacientes
podem ser excluídos porque não estão aptos para o transplante, provavelmente
pelas condições socioeconômicas. Isso tem que ser discutido”, avalia o
economista do Ipea, Alexandre Marinho.
Conscientização
De acordo com a vereadora Olívia Santana, também ouvidora-geral da Câmara, o
objetivo é conscientizar e estimular a doação de órgãos e medula óssea pela
comunidade negra. Olívia reclama da falta de informações acerca dos grupos
sociais que compõem o banco de dados do Registro Brasileiro de Doadores de
Medula Óssea (Redome). “Vamos solicitar do Instituto Nacional do Câncer que
disponibilize aos hemocentros a base de dados sobre o perfil genético dos
doadores. É fundamental que as campanhas de doação de medula óssea sejam
planejadas, garantindo equilíbrio e a diversidade de doadores”, diz.
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