Eu defendo as cotas raciais. Acredito que
devam ser resultado de ações afirmativas adotadas no âmbito de cada instituição
como, aliás, tem sido o caso no Brasil.
Respeito todos aqueles que argumentam contra
as cotas, mas algumas das "teses" defendidas por eles são claramente
risíveis.
Uma delas é de que a implantação de cotas
raciais no Brasil causaria uma guerra civil. Considerando o número de
universidades que já adotaram as cotas, a essa altura a guerra civil já deveria
ter estourado.
A ideia da explosão de uma guerra civil entre
brancos e negros, por causa das cotas raciais, resulta da visão distorcida que
alguns poucos intelectuais têm da convivência entre os "de baixo".
Desconhecem os laços de solidariedade social e presumem, de forma um tanto
elitista, que os brancos pobres não são capazes de reconhecer as injustiças
históricas cometidas contra os negros.
É uma tese que desconhece, por conveniência,
alguns fatos históricos, como o engajamento de centenas de milhares de brancos
na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Lá, sim, houve uma guerra — e
não foi de negros contra brancos, mas de uma coalizão de negros e brancos
contra o racismo oficial, institucional.
No Brasil, o argumento falacioso da guerra
civil foi brandido, por exemplo, pelo todo-poderoso da TV Globo, Ali Kamel,
numa discussão interna com o repórter Rodrigo Vianna. Talvez, aproveitando a
decisão histórica do STF que considera as cotas constitucionais, seja o caso do
Rodrigo contar de novo o caso. Rodrigo, àquela altura, questionava a postura
unilateral da Globo na cobertura do assunto.
A emissora fez campanha aberta e declarada
contra as cotas, usando para isso o Jornal Nacional. Podemos dizer, sem medo de
errar, que a emissora acabou mobilizando e aglutinando em torno de si os que se
opunham às cotas, garantindo a eles visibilidade com o objetivo de convencer a
opinião pública das teses gestadas no Jardim Botânico. Neste esforço se engajou
o DEM, autor da ADIN que está em julgamento no STF. Sim, sim, é mais uma
demonstração da sintonia entre a emissora e o partido de Demóstenes Torres. No
que mais atuaram juntos? Nos bastidores do mensalão, por exemplo — como aliás,
notou Marco Aurélio Mello?
A questão, portanto, vai muito além da
implantação ou não das cotas raciais no Brasil, mas do uso de um bem público —
o espectro eletromagnético — por uma empresa privada para promover suas teses
junto à sociedade brasileira, de forma distorcida e unilateral.
Fonte: Viomundo
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