TIRE O SEU RACISMO DO CAMINHO QUE EU QUERO PASSAR COM A MINHA COR. Georges Najjar Jr

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cinzas de Abdias Nascimento são depositadas na Serra da Barriga. Cerimônia reuniu lideranças e militantes do movimento negro no Brasil


O ativista negro Abdias Nascimento, ex-senador, ex-deputado federal, fundador do Movimento Negro Unificado, defensor da cultura e da igualdade das populações, falecido no mês de maio último, foi homenageado neste domingo, 13, na Serra da Barriga, em União dos Palmares, com a presença de vários militantes e ativistas da causa negra.
Compareceram ao ato lideranças da Nigéria, do Brasil e do Estado, que foram acompanhar o cortejo do enterro das cinzas do ativista, atendendo a um pedido de Abdias. Familiares, os três filhos, a ex-esposa Léa Garcia, atriz da Rede Globo e a última esposa Elisa compareceram ao local e realizaram um ato político que durou várias horas, com discursos, homenagens, recitação de um poema de Abdias pelo ator Chico de Assis, cantorias e falas do secretário de Cultura, Osvaldo Viégas, que foi representando o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB).
O presidente da Fundação Palmares, Eloi Ferreira de Araújo, foi uma das primeiras autoridades a chegar ao local. Ele foi acompanhado do ex-deputado Paulo Fernando dos Santos (Paulão), mas por motivo de agenda teve que sair da cerimônia antes da colocação das cinzas de Abdias, num local íngreme da Serra da Barriga, previamente escolhido por militantes da causa negra, próximo à lagoa sagrada, onde também foi plantada uma muda de baobá, árvore sagrada para os militantes.
Além da muda do baobá onde foram colocadas as cinzas de Abdias, também foi plantada uma muda da gameleira branca, outra árvore sagrada para os negros. Eloi Ferreira disse que Abdias foi um dos maiores líderes pela luta democrática do País e observou que aquela cerimônia na Serra da Barriga foi atendendo a seu desejo.  “A nação tem que se libertar dos efeitos da escravidão e o movimento que aqui vai acontecer será inesquecível para todos”, disse ele.
O presidente da Fundação Palmares revelou que a ideia da instituição é criar um ambiente na Serra da Barriga que envolva artesanato e cultura. “Estamos celebrando a vida e a obra de Abdias e queremos valorizar a cultura de raiz africana, a língua, a gastronomia e a vestimenta. Os indígenas e negros que aqui viveram constituíram uma matriz de identidade nacional. A luta dos escravos e brancos pela liberdade contra a repressão, observou.
“Reconhecemos a importância do Quilombo dos Palmares, não apenas pelos negros e brancos que eram oprimidos na época. Queremos fazer aqui um espaço permanente de atividades, estamos nessa briga. Há um interesse dos estrangeiros, é um espaço diferenciado que merece ser visitado e há o compromisso do governador em viabilizar o acesso.
Agenda
A representante do escritório da Fundação Palmares em Alagoas, Genisete de Lucena Sarmento, que tomou posse recentemente, disse que no mês da consciência negra o mundo se volta para a Serra da Barriga. “A partir de 2012 vai ser diferente. Assumimos o compromisso de iniciar alguma atividade já no dia 6 de fevereiro e durante o ano todo daremos mais atenção à Serra, aos nossos antepassados”, ressaltou Genisete.
A representante alagoana do escritório da Fundação Palmares disse ainda que há uma parceria entre a Prefeitura de União dos Palmares e o governo federal, por intermédio da Fundação Palmares e o governo do Estado.
Ela explicou que o DER, na pessoa do seu diretor Iran Menezes, se comprometeu a sentar com a Fundação e a prefeitura de União dos Palmares, para que conversar sobre a manutenção da estrada de acesso à Serra da Barriga e propôs que essa manutenção seja feita de três em três meses. “Vamos lutar para que o local tenha acessibilidade e visibilidade, funcionando todos os dias”, observou.
Participaram da homenagem para Abdias Nascimento, além dos ativistas negros, o grupo Ilê Aye da Bahia estava na Serra da Barriga com o toque inconfundível de seus tambores, a ministra da Igualdade Racial, Luíza Bairros, a secretária da Mulher, Kátia Born, o secretário de Cultura do Estado, Osvaldo Viégas, o secretário de Cultura do município, Elson Davi (representando o prefeito Areski Freitas), entre outras autoridades e lideranças.
 A Iyalorixá Mãe Neide Oyá D’Oxum, do Grupo União Espírita Santa Bárbara (Guesb), assumiu o restaurante do local e preparou o almoço que foi servido aos visitantes e participantes do ato em homenagem a Abdias Nascimento.

Rota dos Baobás
O ativista negro Antônio Carlos Santos Silva, o TC, disse que pretende implantar A Rota dos Baobás em Alagoas e falou com exclusividade à reportagem do portal Tribuna Hoje a respeito do projeto. Ele disse que a proposta nasceu em Campinas e objetiva fazer o georeferenciamento dos quilombos no Brasil.
“O projeto visa integrar as ações de articulação da Rede Mocambos, que integra aproximadamente 80 comunidades, em 15 estados brasileiros, em sua maioria comunidades quilombolas, urbanas e rurais e também entidades culturais e de terreiros”.
Segundo ele, a Rede Mocambos também vem fortalecendo a integração entre muitos pontos de cultura e ações do Programa Cultura Viva, “ações de inclusão digital entre vários ministérios e interação com outras redes de comunicação social nas comunidades quilombolas”, explica.
Segundo TC, o baobá é um elemento simbólico, “que nos remete à nossa ancestralidade e tradições. O objetivo de Antônio Carlos é plantar 480 baobás, indicando os 480 anos que marcam a chegada dos primeiros negros no quilombo.

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